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ML-BR: O futuro do Brasil no Espaço

O projeto MLBR avança no desenvolvimento integrado de propulsão, controle, redes elétricas e infraestrutura de lançamento. Testes rigorosos e parcerias estratégicas marcam o progresso rumo à operacionalização do microlançador orbital brasileiro. Veja um resumo de tudo o que temos até agora

Com os mais recentes anúncios do projeto ML-BR e seu andamento em estágio acelerado fica claro a todos que esse será o projeto que levará o Brasil a orbita por meios próprios.

Ficha Técnica do Veículo


ML-BR

Logo do Foguete
Missão PrincipalLançamento de Satélites
Nome do FogueteMicrolançador Brasileiro | ML-BR
FabricantesCENIC, Delsis, ETSys, Plasmahub, Concert, Bizu Space, Fibraforte e Almeida
Carga Útil40 kg para uma orbita baixa (450km)
MaterialFibra de Carbono
Altura12 Metros
Diâmetro 1 Metro
Nome do Primeiro EstágioN90A (Nauru 90 A)
Quantidade de Propelente do Primeiro Estágio9.000kg
Nome do Segundo EstágioN08A (Nauru 08 A)
Quantidade de Propelente do Segundo Estágio800kg
Nome do Terceiro EstágioN04A (Nauru 04 A)
Quantidade de Propelente do Terceiro Estágio400kg
Combustível do FogueteCombustível Sólido (Nome não divulgado)
Nome do Terceiro Estágio Alternativo (Upperstage)Arion
Propelente do estágio alternativoOxidante: Peróxido de Hidrogênio Concentrado (HTP – High Test Peroxide)
Combustível: Querosene de Aviação (JET-A1)

Sobre o projeto

Sigla para Microlançador Brasileiro, o ML-BR é o veículo lançador que está sendo construído pela CENIC e suas empresas parceiras, ele é um veículo lançador de pequeno porte que ganhou o edital da Finep junto do projeto VLN-AKR da Akaer, são R$190 milhões de reais para desenvolver o veículo em 3 anos além de construir e lançar 2 protótipos.

O ML-BR possui 3 estágios de combustível sólido, além de uma versão alternativa de terceiro estágio de combustível liquido sendo desenvolvida pela BIZU SPACE, porém essa versão não faz parte do financiamento da FINEP e é uma iniciativa independente do grupo de empresas para garantir a viabilidade comercial do veículo após a finalização que foi contratado pela FINEP.

A nomenclatura dos motores do ML-BR foi inspirada na língua tupi-guarani e tem origem na palavra “nauru”, que significa “valente”.

Dessa forma, a designação dos foguetes obedece à seguinte ordem:

  • N – Designação de Nauru;
  • NÚMERO – Arredondamento da quantidade mais próxima de propelente, em centenas de quilogramas;
  • LETRA – Indicativo da versão do motor.

O motor do primeiro estágio do Microlançador, então, ganhou o nome de N-90A, uma vez que é o motor Nauru, com aproximadamente 9 toneladas de propelente e correspondente à primeira versão do modelo.

Já o motor foguete líquido Arion, em desenvolvimento na BIZU SPACE, que será utilizado para uso no estágio superior do MLBR, tem origem na mitologia grega, é um cavalo divinamente criado, incrivelmente veloz, com uma crina preta. Ele salvou a vida de Adrasto, o rei de Argos, durante a guerra dos Sete contra Tebas.

Imagem do futuro upperstage ARION do foguete ML-BR

O Desenvolvimento

Início do Projeto

O desenvolvimento do ML-BR teve início efetivo em 2024, quando a equipe do projeto concentrou seus esforços no design dos três motores, na fabricação dos primeiros protótipos e na condução de ensaios hidrostáticos em escala reduzida.

Nesses testes, os motores são preenchidos com água e pressurizados a níveis superiores aos que enfrentariam em condições operacionais reais. Para validar a robustez dos projetos, os envelopes foram levados até a ruptura, como demonstrado no ensaio com o protótipo em escala 1/3 do motor N-90.

Além disso o primeiro envelope estrutural do motor N-90 já foi fabricado e será utilizado em ensaios estruturais, marcando mais uma etapa no avanço do desenvolvimento desse propulsor.

Modelo Estrutural do Motor N90A do MLBR (Imagem: Linkedin projeto MLBR)

Os subsistemas do veículo

Um avanço significativo no desenvolvimento do ML-BR foi alcançado pela empresa Concert Technologies, responsável pela concepção da Rede Elétrica de Controle do veículo. Este sistema abrange o Sistema de Navegação Inercial com suporte GNSS, desenvolvido em colaboração com a HORUSEYE TECH e a CRON, além do Computador de Missão, ambos representados nas figuras a seguir. Esses componentes são cruciais para garantir a navegação autônoma e o controle preciso durante o voo.

As versões de qualificação desses equipamentos já estão em processo de fabricação. Para validar sua integração e confiabilidade operacional no contexto do ML-BR, eles vêm sendo submetidos a rigorosos testes funcionais e ensaios laboratoriais. As imagens a seguir ilustram os protótipos atuais do sistema SNI-GNSS e do Computador de Missão.

Sistema de Navegação Inercial do ML-BR, chamada de SNI-GNSS (Imagem: Linkedin projeto MLBR)

Cabe ressaltar que o sistema de navegação do ML-BR é uma variação de um sistema de navegação inercial contratada pela AEB em outro edital para desenvolvimento de sistemas de navegação inercial nacionais, e será testada em voo orbital em Julho no foguete HANBIT-Nano, da sul-coreana Innospace

A comunicação contínua, rápida e confiável entre o veículo e o solo é um requisito fundamental em todas as fases da operação. Essa função é desempenhada pelo sistema de telemetria, cuja arquitetura, no contexto do ML-BR, está sob responsabilidade da empresa Delsis.

Cabe a Delsis o desenvolvimento da rede elétrica de telemetria a bordo, da infraestrutura de telemetria do banco de controle em solo, bem como da implementação da rede CAN, que interliga os sistemas de controle e telemetria do veículo.

Os demais sistemas elétricos e o sistema de terminação de voo, são de responsabilidade da ETSys, que trabalhou no VSISNAV e no Satélite de Reentrada Atmosférica (SARA). No projeto MLBR a ETSys tem como escopo o desenvolvimento de equipamentos embarcados para a geração e distribuição de energia elétrica e para a segurança de voo.

Em um veículo orbital como o ML-BR, o controle ativo de estabilidade e guiamento é indispensável para garantir a precisão da trajetória e a segurança da missão. Para isso, o foguete contará com sistema de controle por tubeira móvel e um conjunto de mini propulsores dedicados ao controle de rolamento e, nos dois estágios superiores, também ao controle de atitude. Desenvolvido pela Fibraforte em parceria com a CENIC, o sistema inclui um laboratório de Ensaios Pneumáticos para testes de componentes críticos. Em 2024, o projeto foi finalizado e integrado ao Digital Mock-Up do veículo, possibilitando validações virtuais da arquitetura e do desempenho esperado em voo.

Sistema de controle de atitude do ML-BR (Imagem: Linkedin projeto MLBR)

A Plasmahub está à frente da complexa tarefa de integrar todos os sistemas do foguete ML-BR, tanto no aspecto mecânico quanto elétrico. A empresa é responsável pelos projetos, montagem e integração dos módulos, além do desenvolvimento do software do computador de missão, que comanda o veículo durante o voo. Para validar o funcionamento conjunto de todos esses elementos, uma campanha completa de ensaios de integração está prevista para os próximos meses. Paralelamente, a equipe também desenvolve o Banco de Controle — infraestrutura de solo que inclui umbilicais, fontes e computadores utilizados na preparação e monitoramento do veículo até o lançamento. Com histórico na indústria aeronáutica, a Plasmahub também conduz estudos aerodinâmicos, simulações computacionais de fluidos (CFD), cálculos de trajetória, análises estruturais e de cargas, assegurando que o projeto avance com base em dados técnicos robustos.

Em uma notícia recente no site, divulgamos que a PlasmaHub anunciou que a campanha de testes de integração acontecerão ao longo de 2025 e início de 2026.

Simulação computacional de fluidos (CFD) (Imagem: Linkedin projeto MLBR)

O foguete ML-BR contará com uma plataforma de lançamento desenvolvida pela empresa Almeida, especializada em equipamentos de grande porte e alta precisão, requisitos essenciais para garantir uma decolagem segura. Inspirada na operação do foguete japonês Lambda-4S, a estrutura adota um modelo mais simplificado, semelhante ao usado em lançamentos suborbitais como os do VS40 brasileiro. A plataforma está sendo projetada com base nos padrões das plataformas universais já utilizadas no Centro de Lançamento de Alcântara, otimizando sua integração com a infraestrutura nacional existente.

Acontecimentos mais recentes no desenvolvimento

A startup Bizu Space, em parceria com a CENIC, está desenvolvendo um novo propulsor líquido destinado a substituir o estágio superior do foguete ML-BR. O objetivo é ampliar a capacidade de carga útil e melhorar a precisão orbital, com a adoção de um sistema de empuxo variável baseado em peróxido de hidrogênio concentrado (HTP) e querosene de aviação (Jet-A). A escolha do propelente visa equilibrar custo e segurança operacional.

O projeto, considerado um avanço inédito no cenário aeroespacial brasileiro, exigiu o desenvolvimento de tecnologias críticas, como uma planta de concentração de peróxido e a construção do Campo de Testes T8, em parceria com a UNIVAP. Ambos já estão em fase operacional ou prestes a entrar em funcionamento.

Campo de Testes T8 da Bizu Space (Vídeo: Perfil no Instagram da Bizu.Space)

Durante o desenvolvimento do ML-BR, a ETSYS incorporou ao Brasil dois equipamentos fundamentais para os testes ambientais do veículo: o Shaker Eletrodinâmico e a Câmara Climática. Esses equipamentos foram dedicados exclusivamente à qualificação do foguete.

O Shaker Eletrodinâmico simulou as vibrações intensas típicas do lançamento, submetendo os sistemas a rigorosos testes mecânicos. Paralelamente, a Câmara Climática reproduziu as variações extremas de temperatura enfrentadas durante a operação em órbita, validando a resistência dos componentes sob condições reais de missão. Esses ensaios garantiram que o ML-BR atendesse aos padrões internacionais de desempenho e segurança, como ECSS e NASA-STD, consolidando avanços significativos na robustez do projeto.

“A Revista Foguetes Brasileiros anunciou o momento da chegada destes equipamentos de teste

No progresso do desenvolvimento dos equipamentos embarcados para a Rede Elétrica de Controle do veículo a Concert avançou em diversas etapas, incluindo testes no Computador de Missão (CDM) e no Sistema de Navegação Inercial (SNI).

Entre as fases já concluídas estão:

  • Finalização da documentação técnica dos sistemas CDM e SNI, abrangendo interfaces, requisitos e projeto detalhado;
  • Produção de duas unidades do SNI e cinco unidades do CDM em versões de engenharia, com duas delas destinadas à equipe responsável pelo software e integração;
  • Realização de ensaios funcionais e ambientais no CDM, incluindo testes de vibração e ciclo térmico;
  • Execução de testes completos no SNI, que envolveram ensaios em bancada de três eixos, testes de campo e simulações com GPS.

Esses avanços são o ponto atual do desenvolvimento do ML-BR, no momento do fechamento dessa reportagem.

Analise e espectativas

O edital do VLPP feito pela FINEP e que terminou com a contratação do ML-BR diz que o período de desenvolvimento é de até 3 anos e com a construção de 2 protótipos, não sabemos o quão flexível o contrato assinado entre eles é com atrasos e adiamentos, e não sabemos como está os repasses de recursos, mas com o que se tem de informação pública é que o projeto liderado pela CENIC está sendo desenvolvido numa velocidade e dedicação nunca antes vista num programa de desenvolvimento na história do programa espacial brasileira, até a segunda ganhadora do edital, a Akaer, não vem mostrando muito progresso em seu desenvolvimento além de uma polémica recente envolvendo atraso com pagamento de funcionários.

Além disso o Marketing do projeto é excelente, a empresa parece ciente que a divulgação é algo necessário para o sucesso comercial do projeto. E o uso do ML-BR para além de um protótipo para cumprir edital mas um veículo operacional comercial parece algo que o arranjo empresarial deseja.

Um sinal de que o projeto planeja um futuro comercial está no desenvolvimento do Upperstage Arion, que está sendo desenvolvido pela Bizu Space mas não fará parte dos dois protótipos encomendados pela FINEP, será algo a parte e paralelo ao edital.

Então se tudo seguir no ritmo em que as coisas vão em 2027 teremos o lançamento do ML-BR no Centro de Lançamentos de Alcântara.

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