( Atualizado ) O Veículo Lançador de Microssatélites, VLM, é o maior foguete em desenvolvimento atualmente no Brasil, seu primeiro esboço remonta do final da Década de 90, sendo uma versão reduzida do VLS, em meados de 2010 o projeto foi reformulado agora com parceria da Agência Espacial Alemã, DLR, sendo composto de dois motores S-50 sendo primeiro e segundo estágios, desenvolvidos especificamente para esse projeto, e um motor S-44 como estágio satelitizador ou Upperstage, antigo quarto estágio do VLS.
Para a produção dos motores S-50 foi contratada a AVIBRAS Indústria Aeroespacial, em dezembro de 2016 (logo após o cancelamento definitivo do programa VLS), foram contratados na época 8 motores S-50, sendo 6 motores para serem entregues em 26 meses (por volta de 2 anos) e mais dois motores a serem adicionados em termos aditivo no contrato. Hoje não existe mais qualquer menção a contratação de 8 motores em qualquer site governamental, hoje o único local onde ainda se encontra qualquer informação sobre isso é no site Brazilian Space, que é parceiro da Revista Foguetes Brasileiros, leia na íntegra a notícia deles à época: https://brazilianspace.blogspot.com/2016/12/contrato-garante-producao-de-oito.html?
Enquanto antes só precisaria de um termo aditivo ao contrato, algo suspeito mudou e precisaria de uma nova contratação dos motores a parte, isso nunca foi deixado claro de que maneira isso funcionaria, quando pedimos acesso ao contrário em uma reportagem anterior (leia aqui) nos foi fornecido já o contrato modificado, hoje tanto a FAB quando a AEB negam e dizem que no contrato sempre foram 6 motores e que os motores do VLM seriam contratados a parte e não voz termo aditivo no contrato.
Desses 6 motores, somente metade foi entregue e já foram testados:
- Motor 1 – Ensaio de Ruptura
- O motor foi colocado em uma pressão interna extrema até o rompimento do Casco
- Teste realizado em Novembro de 2018
- Motor 2 – Ensaio Estrutural
- O motor passou por vários testes, incluindo teste de transporte em um C-130 Hércules até o Centro de Lançamentos de Alcântara, teste de encaixe no PAD, teste de montagem do VS-50 (a construção de um mockup em tamanho real do foguete) entre outros testes, teste de carregamento do propelente inerte, etc
- Realizado entre Setembro de 2019 e meados de 2022
- Motor 3 – Teste Estático com Tubeira Fixa
- O Motor foi carregado de propelente na Usina Coronel Abner, colocado em uma bancada de testes e ignitado.
- Realizado em primeiro de outubro de 2021
Os 3 motores restantes seriam para 1 teste estático porém dessa vez com a tubeira móvel desenvolvida pelo DLR Moraba, durante a queima do motor a Tubeira irá se mover como se estivesse corrigindo a trajetória do veículo, a ideia é testar a capacidade desse sistema, os outros dois motores S-50 seriam usados em vôo, em duas missões do VS-50 (Veículo Suborbital 50), já o VLM seria contemplado em outro contrato a ser realizado mais tarde.
Nós já falamos de tudo isso em outra reportagem (leia aqui)
Com quase 15 anos desde o início de seu desenvolvimento, o projeto acumula atrasos, causados pela falta de orçamento e pela péssima administração da Avibras, principal fornecedora do projeto. Em março de 2022 a empresa pediu recuperação judicial devido a dívidas que chegaram à marca de 600 milhões de reais, e os trabalhadores estão em greve desde setembro de 2022, segundo o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, desde março de 2022 foram somados mais 320 milhões de reais a dívida da empresa. Vários interessados nacionais e estrangeiros negociaram com a Avibras e com o Sindicato para realizar a aquisição da empresa e o pagamento das dívidas, sem sucesso até então.
Uma nova empresa brasileira mostrou interesse nos últimos dias em adquirir a AVIBRAS. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, está acompanhando os desdobramentos, mas é impedido pela legislação de investir na Avibras enquanto a mesma estiver em recuperação judicial, além disso existe um projeto de lei criado pelo Deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP) para estatizar a AVIBRAS, mas projeto está congelado na câmara enquanto aguardam os desdobramentos da aquisição ou recuperação da empresa.
Em um recente pedido de acesso à informação feito para a FAB cobrando informações recentes sobre o VLM, a Força Aérea respondeu com o seguinte: “Sobre a solicitação em comento, inicialmente, cumpre-nos informar que o Motor Foguete S50 é o principal sistema propulsivo dos veículos VS-50 e VLM-1. Embora o projeto do motor seja do IAE, sua fabricação depende de um parque fabril adequado, contratado junto a indústria nacional (No caso, a Avibras). Demais disso, como a empresa declarou recuperação judicial em março de 2022, o cronograma de entrega dos três motores restantes foi severamente impactado, materializando-se em um atraso significativo aos cronogramas do projeto VLM-1, que depende destes motores.”
Além disso, foi dito sobre o estado atual da Usina Coronel Abner, responsável por carregar o propelente dos motores e realizar o teste estático: “Destaca-se que a UCA está pronta para realizar este importante teste de queima, porém, é mandatório que esta indústria nacional termine, antes, todos os processos necessários para a entrega do quarto motor ao IAE.”
Complementando, também foi dito sobre o estado do quarto motor S-50 que realizará o teste: “O quarto motor do projeto está parcialmente fabricado na empresa, dependendo apenas de si para retomar suas atividades e ser entregue. No momento, dada a incerteza da situação da empresa, este teste é planejado para ser realizado a partir de junho de 2025, no melhor cenário.“
E por fim, o cronograma dos próximos lançamentos do programa: “O Projeto VLM-1 prevê a realização de dois lançamentos do veículo VS-50 e um lançamento orbital do veículo VLM-1. As datas para estes lançamentos dependem, também, da entrega dos demais motores S50. No momento, os cronogramas de lançamentos são planejados para ocorrerem, respectivamente, em outubro de 2026 (VS-50 V01), em outubro de 2027 (VS-50 V02) e em outubro de 2028 (VLM-1).”
Lembrando que o VS-50 V01 terá segundo estágio inerte (motor S44 sem combustível) e o V02 levará em teoria o Planador Hipersônico Europeu Hexafly, porém, tudo indica que o Foguete Acelerador Hipersônico RATO desenvolvido pela MacJee , deve herdar essa carga útil junto do 14-X e o SHEFEX, uma vez que os atrasos constantes do VLM vem atrasando também esses três projetos hipersônicos que dependem do motor S-50, sendo que dois desses três projetos são clientes europeus.
Perguntamos também para a FAB se esses atrasos estão incomodando os alemães ou se isso está abalando a relação com eles, e a FAB limitou a dizer que: “Apesar dos impactos nos cronogramas de lançamentos, tanto o IAE, como o parceiro alemão do Projeto, o DLR, continuam desenvolvendo os demais sistemas dos veículos VS-50 e VLM-1.”
E finalizando, perguntamos também a FAB sobre o futuro do projeto e também sobre uma confusão de nomenclatura, por que foi anunciado pela Agência Espacial Brasileira um foguete chamado VL-X, sendo este mencionado no PNAE 2022-2031, e a Força Aérea também havia anunciado um foguete chamado Aquila, com as variantes Aquila-1 e Aquila-1e, e nos foi esclarecido sobre isso: “Com relação ao Programa VLX, previsto no PNAE 2022-2031 conforme o item “Família VL-X”, a designação VLX-1 corresponde à designação Áquila-1 do Relatório Final do GT-06 do CDPEB. Ou seja, VLX-1 e Áquila-1 correspondem ao mesmo veículo.”
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