Num mundo ofuscado por telas pequenas, ainda há uma janela para o infinito — o Telescópio Espacial Hubble. Em 24 de abril de 2025, ele completa 35 anos orbitando a Terra, como um vigia cósmico silencioso, descortinando o sublime e o caótico do universo. Foi lançado em 1990, mas sua verdadeira ignição não foi de propulsores, e sim do imaginário humano: um salto que fundiu engenharia com visão poética, ciência com arte celeste.




Hubble não é apenas uma ferramenta científica — é uma epifania orbital. Colocado acima da atmosfera terrestre, ele foi libertado do véu distorcido que limita os telescópios terrestres. Captura luzes que os olhos humanos jamais sonharam ver: do ultravioleta ao infravermelho próximo, revelando galáxias no limiar do tempo, nebulosas gestando estrelas, e buracos negros que devoram matéria e tempo com apetite cósmico.
Desde seu início, o Hubble realizou quase 1,7 milhão de observações de aproximadamente 55 mil alvos astronômicos. Esses dados resultaram em mais de 22 mil artigos científicos, com mais de 1,3 milhão de citações. São mais de 400 terabytes de informação armazenada — e contando. É um dos instrumentos mais requisitados do mundo científico, com demanda seis vezes maior que sua capacidade.
Hubble sobreviveu graças à persistência humana: cinco missões de manutenção entre 1993 e 2009 atualizaram seus sensores, computadores e câmeras. Astronautas da NASA e da ESA arriscaram suas vidas para estender a vida de um olho que não dorme.
As Visões Recentes
Em comemoração aos 35 anos, novas imagens foram divulgadas. Marte surge em tons esbranquiçados, com nuvens de gelo sobre seu deserto vermelho. A galáxia espiral barrada NGC 5335 exibe suas formas floculentas, desprovidas da ordem que vemos na Via Láctea, mas igualmente férteis em nascimento estelar. A nebulosa planetária NGC 2899 se assemelha a uma joia líquida esculpida por ventos estelares e estrelas binárias. E a Nebulosa Roseta, com seus jatos de plasma colidindo com nuvens escuras, pulsa como um coração estelar.
Legado Cósmico
Antes de 1990, a idade do Universo era apenas estimada — e com grandes margens de erro. Planetas fora do Sistema Solar eram hipótese. Buracos negros supermassivos, uma suspeita. A energia escura, nem nome tinha. O Hubble não apenas mudou paradigmas — ele os quebrou. Mostrou que o universo está se expandindo aceleradamente. Que há milhares de exoplanetas, muitos com atmosferas mensuráveis. Que buracos negros estão no centro da maioria das galáxias. Que somos parte de uma dança gravitacional vasta, cruel e bela.
Suas imagens, com sua beleza crua e colossal, alcançaram algo raro: tornaram a ciência pop, sensível, quase espiritual. Em salas de aula, galerias de arte e telas de celular, o Hubble virou ícone. Não apenas da astrofísica — mas da nossa sede de compreender.
Um Olho Que Não Pisca
Mesmo com a chegada do James Webb, o Hubble não está obsoleto. Ele colabora com o novo gigante, revelando faixas complementares do espectro. O Hubble observa. O Webb aprofunda. Juntos, cartografam o desconhecido.
Hoje, aos 35 anos, o Hubble não é apenas um satélite. É uma ponte entre eras. Um lembrete de que, mesmo pequenos diante do cosmos, ousamos olhar para ele com olhos de titã.
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