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Entenda: Como a crise na AVIBRÁS pode DEVASTAR a Defesa e o Programa Espacial do Brasil

Entenda: Como a crise na AVIBRÁS pode DEVASTAR a Defesa e o Programa Espacial do Brasil

Venda a estrangeiros, demissões em massa, crise trabalhista, entre outros problemas graves assolam a companhia aeroespacial e militar brasileira

Uma das maiores empresas militares do Brasil, com 62 anos de operação, mas hoje existe o risco dela falir e/ou ser vendida a estrangeiros, a empresa é responsável pelo VLS, VSB30, VLM, Astros 2020, Guará 4X4, entre outros, Entenda hoje o porque essa empresa está em risco

Sobre a AVIBRÁS

Avibras Indústria Aeroespacial é uma diversificada empresa brasileira que projeta, desenvolve e fabrica produtos e serviços de defesa. Sua gama de produtos abrange tanto sistemas de artilharia e defesa de aeronaves, foguetes e mísseis, como sistemas de armas ar-solo e superfície-superfície, incluindo sistemas de foguetes de artilharias, sistemas ar-solo de 70 mm e mísseis guiados multifunção de fibra óptica. Também fabrica veículos blindados. A Avibras também é fabricante de veículos de transporte civil por meio de uma divisão chamada Tectran, equipamentos de telecomunicações, equipamentos eletrônicos industriais (Powertronics), pintura automotiva e explosivos.


Inicio das crises

Ao longo de sua história, a Avibrás Industria Aeroespacial passou por diversas crises, por ser uma empresa extremamente dependente do governo e da situação geopolítica mundial, como foi dito em um editorial do DefesaNet, “Crise é uma palavra que convive com os 54 anos de história da AVIBRAS Indústria Aeroespacial SA. E nesta última crise ela está há longo tempo em uma persistente e corrosiva.”

A década de 90 foi marcada por uma dificuldade financeira, levando a Avibras a fabricar antenas parabólicas e outros produtos para sobreviver. Em 2001, o Governo Brasileiro, sob a presidência de Fernando Henrique, concedeu garantias para a venda do Sistema ASTROS para a Malásia.

Em janeiro de 2011, a Avibras demitiu 155 empregados mas se comprometeu com o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas a recontratar todos, a partir da efetivação do contrato do programa Astros 2020. A Avibras tem 45 anos e faturou R$ 220 milhões em 2010.


Crise atual

No 18 de março de 2022, no fórum de Jacareí, interior de São Paulo, local de uma de suas fábricas, foi feito o pedido de recuperação judicial. A empresa acumulou prejuízos nos últimos dois anos e tem endividamento que passa de R$ 390 milhões. Foram demitidos 420 funcionários dos mais de mil empregados da organização. Esta é a segunda vez que a Avibras recorre a um processo de recuperação judicial. O primeiro ocorreu em 2008 e durou até 2010.

A Avibras afirma que a pandemia de covid-19 reduziu drasticamente as exportações de equipamentos, que correspondem a cerca de 85% de sua receita total. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o advogado da companhia, Nelson Marcondes, disse que durante a crise sanitária diversos países remanejaram os seus recursos para a saúde e diminuíram investimentos em defesa.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, cidade sede da Avibras, emitiu nota contra a decisão. A entidade afirma que foi surpreendida pelo pedido de recuperação judicial, sem poder negociar a suspensão de contratos ou a elaboração de um plano de demissão voluntária para os funcionários.


O setor de defesa nacional vive uma grande crise porque o Brasil deixou de investir em sua “capacidade industrial e abriu mão de garantir a sua plena capacidade de se defender ante qualquer ameaça”, diz especialista

Reportagem do site de notícias Sputnik Brasil do dia 14 de dezembro de 2022, revela que a Avibras, empresa de equipamentos de defesa brasileira considerada estratégica pelo Ministério da Defesa, vive a pior crise de sua história. Em recuperação judicial, a maior fabricante de material bélico do Brasil, dona de um arsenal que inclui mísseis, blindados e lançadores de foguetes, tem uma dívida de R$ 640 milhões.

A empresa pediu recuperação judicial em março deste ano (2022) depois de demitir 400 de seus 1.400 funcionários. O professor Eduardo Siqueira Brick, de Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança na Universidade Federal Fluminense (UFF), foi entrevistado pelo Sputnik e afirmou que isso ocorre porque as Forças Armadas do Brasil, há décadas, agem como se estivem presas em um ciclo vicioso, negligenciando a capacidade de logística e defesa do país.

A Avibras minimiza a gravidade da situação e afirma que se empenha “na retomada dos negócios, com foco no desenvolvimento de novos mercados e na sustentabilidade empresarial” e não confirma nem nega que possam haver mais cortes de funcionários.

Esse quadro grave significa que o Brasil deixou de investir em dois pontos críticos para garantir a sua plena capacidade de se defender ante qualquer ameaça. Como aponta Siqueira Brick, são eles: “capacidade industrial, para conceber e fabricar armas para as Forças Armadas; e a capacidade de suprir unidades durante um combate, promovendo o abastecimento de munições, peças sobressalentes, alimentos e combustíveis”.

Citando algumas empresas que passaram por graves crises nos últimos anos, como os casos emblemáticos da MECTRON e da Avibras, Eduardo Siqueira Brick reconhece que retomar o desenvolvimento de uma indústria que parou no tempo “é um processo de décadas”, que passa também pela modernização da infraestrutura que já existe.

Para começar, ele aponta que é necessário tomar uma decisão política, que virá necessariamente de Brasília: “Politica de defesa não é atribuição das Forças Armadas, mas, sim, do Estado do Brasil. As Forças Armadas são instrumentos de defesa”.

Em segundo lugar, é imperativo criar um orçamento de gestão de defesa, com soluções e compromissos para sustentar a capacidade operacional de combate das tropas e a capacidade de assegurar a elas o arsenal de guerra do Brasil.

“Os meios atuais ficam obsoletos muito rapidamente, e quando chega a hora de usar, eles não são mais necessários”, disse Siqueira Brick, acrescentando que, em tempo de paz, “você deve aproveitar a janela de oportunidade para priorizar essa força de defesa”.

Opinião dos Trabalhadores

Os trabalhadores da Avibrás estiveram em greve, Foram quase cinco meses de paralisação, os metalúrgicos lutam por salários e empregos e realizam uma das mais fortes mobilizações da categoria.

Os operários estão de braços cruzados desde 9 de setembro, por causa da irregularidade nos pagamentos. Hoje, a empresa deve os salários de outubro a janeiro a cerca de 1.400 trabalhadores.

Embora tenha um patrimônio líquido superior a R$ 2 bilhões, a Avibras está em recuperação judicial. Um estudo realizado pelo Ilaese (Instituto Latinoamericano de Estudos Socioeconômicos) demonstra que a crise vivida pela empresa está diretamente ligada a problemas de gestão. Mas quem está pagando a conta são os trabalhadores, já que não têm perspectivas de quando terão seus salários regularizados. 

“Essa greve é exemplo de resistência aos ataques dos patrões e continuará com a mesma força com que chegou até aqui”, afirma o presidente do Sindicato, Weller Gonçalves.

A gravidade da situação dos trabalhadores da Avibras levou o  Sindicato a procurar o governo Lula.
  
Em reunião no Ministério da Defesa, no dia 25, o Sindicato propôs, como medida emergencial, a compra de produtos da Avibras pelo governo. 

No ano passado, o Exército assinou um contrato no valor de R$ 5 bilhões para aquisição de veículos blindados de um consórcio italiano. Se a compra fosse feita com a Avibras, os salários dos trabalhadores estariam garantidos.
  
 O Sindicato também defende a estatização da fábrica, sob controle dos trabalhadores.

Riscos de desnacionalização

“Pior negócio do mundo”, adverte o comandante da Marinha Robinson Farinazzo. “Vamos vender a espingarda que defende o galinheiro para o lobo”, afirmou

Reproduzimos abaixo a entrevista do oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, ao site de notícias Sputnik Brasil e publicada no dia 28 de março de 2023. O oficial alerta, nessa importante reportagem, para o perigo que representa para a segurança do Brasil a venda da Avibrás, empresa estratégica do setor de defesa brasileiro, para grupos estrangeiros.

Para o comandante Robinson Farinazzo, a perda da Avibrás seria um tiro no pé e colocaria em risco a soberania brasileira. “O sistema Astros não deixa a desejar em relação a nenhum similar no planeta. É primeira linha em qualquer lugar do mundo, o que é reconhecido internacionalmente”, disse o militar. “É uma arma atualizada, que todo país […] precisa manter em seu portfólio.”

Confira a reportagem da Sputnik, de autoria de Ana Livia Esteves!

Empresa-chave do setor de defesa brasileiro pode ser vendida para Alemanha ou Emirados Árabes Unidos, após entrar em recuperação judicial questionada por sindicato. Para o comandante Robinson Farinazzo, perda da Avibrás seria tiro no pé e colocaria em risco a soberania brasileira.

Nesta semana, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região acendeu o alerta para a possível venda da empresa de produtos de defesa Avibrás para conglomerados estrangeiros.

Empresas como a alemã Rheinmetall e a emiradense Edge Group estão de olho na empresa brasileira, que fabrica sistemas de lançamento de foguetes Astros e o míssil tático de cruzeiro AV-TM 300.

O sistema de foguetes Astros passa por um bom momento em vendas internacionais e já foi testado e operado por cerca de nove países. A Avibrás obtém cerca de 80% de suas receitas através de exportações, cifra que estava em tendência de alta, informou a Hora do Povo.

De acordo com o especialista militar e oficial da reserva da Marinha do Brasil, comandante Robinson Farinazzo, a venda de uma empresa estratégica para o setor de defesa a conglomerados internacionais não atende aos interesses do Brasil.

Exército recebe viaturas Astros versão MK-6 do projeto estratégico do Exército Astros 2020
© ©Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Pior negócio do mundo. Principalmente se a venda for feita para a Europa, composta de países que reiteradamente questionam a nossa soberania sobre a Amazônia”, disse Farinazzo. “Vamos vender a espingarda que defende o galinheiro para o lobo.”

Conforme apurou o portal Relatório Reservado, a Avibrás confirmou que “o governo brasileiro acompanha de perto a evolução” das negociações de venda da empresa.

O conglomerado alemão Rheinmetall conta com fábricas em 33 países e lucra alto com o conflito ucraniano. O grupo produz tanques Leopard que serão enviados por Berlim a Kiev e planeja abrir fábrica na Ucrânia, cliente que lhe garantiu aumento de 150% no preço de suas ações desde fevereiro do ano passado.

Já a Edge Group, dos Emirados Árabes Unidos, conta com intermediários influentes no cenário político brasileiro, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em maio de 2022, o filho 0.3 do ex-presidente Bolsonaro esteve reunido com o Edge Group, ao lado do então secretário de assuntos estratégicos da Presidência, Flávio Rocha, e do então secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa, Marcos Degaut.

Para o comandante Farinazzo, a perda da Avibrás seria “um tiro no pé”, já que o Brasil perderia “capital humano com grande experiência, uma marca e a capacidade de fabricar produtos de defesa importantes”.

Além disso, a empresa desenvolve projetos cruciais para o setor de defesa brasileiro, como os mísseis antinavio de superfície Mansup. Segundo o jornal Estado de São Paulo, o Exército brasileiro já investiu mais de R$ 100 milhões no projeto que, caso concluído, será o primeiro deste tipo a contar com tecnologias e componentes 100% nacionais.

“O sistema Astros não deixa a desejar em relação a nenhum similar no planeta. É primeira linha em qualquer lugar do mundo, o que é reconhecido internacionalmente”, disse Farinazzo. “É uma arma atualizada, que todo país […] precisa manter em seu portfólio.”

Apesar da qualidade e importância dos produtos fabricados pela Avibrás, a empresa enfrenta dificuldades há bastante tempo. Em 2022, a companhia pediu recuperação judicial pela segunda vez, após acumular dívida de R$ 500 milhões e demitir 400 funcionários.

Em nota técnica, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região declarou que a recuperação judicial da empresa é injustificada e que seu valor de mercado só tende a crescer. Para manter os postos de trabalho e a tecnologia desenvolvida pela Avibrás no Brasil, o sindicato defende a estatização da empresa.

“Todo o investimento realizado desde 1940 pelo Estado brasileiro no complexo industrial militar corre o risco de ser adquirido por multinacionais […] levando à transformação de fábricas brasileiras em simples maquiladoras”, argumentou o sindicato em nota.

Farinazzo acredita que a estatização não deve ser “demonizada antes de ser estudada”, mas lembra que essa situação poderia ter sido evitada, caso o Brasil tivesse uma “política de investimento perene no setor de defesa”.

“A indústria de defesa precisa do investimento do Estado, isso é uma característica do setor”, apontou Farinazzo. “As pessoas precisam mudar a mentalidade do neoliberalismo de que a indústria de defesa precise dar lucro. Mesmo que opere no vermelho, o governo precisa garantir a manutenção dela.”

A Avibrás está entre os principais fornecedores de armamentos para as Forças Armadas brasileiras, em particular para os Fuzileiros Navais. No entanto, as compras são consideradas insuficientes, o que levou a empresa a investir nas exportações.

A falta de política de Estado para investimento em Defesa está associada à ideia ultrapassada de setores da sociedade brasileira, que consideram o país “alinhado aos EUA e parte do bloco ocidental”.

“Não é isso: o bloco ocidental é que faz ingerências no sentido de relativizar nossa soberania da Amazônia”, alertou Farinazzo. “Ou mudamos a nossa mentalidade, ou o preço a ser pago será altíssimo.”

No entanto, a mudança da mentalidade brasileira em relação ao setor de defesa e suas parcerias externas é “talvez o desafio mais difícil a ser superado”.

“O Brasil é um país cobiçado. Se não tivermos um arcabouço de defesa, não conseguiremos impor nossos objetivos de segurança nacional, e viveremos para sempre na pobreza, explorados e a reboque das grandes potências”, concluiu o comandante.

No dia 23 de março, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região emitiu nota técnica repudiando a possível venda da empresa de defesa Avibrás a conglomerados estrangeiros. O sindicato chamou atenção para salários atrasados de funcionários da companhia e defendeu sua estatização.


A solução amplamente defendida, tanto por militares, quanto pelos trabalhadores da empresa, é a sua ESTATIZAÇÃO, algo que poderia ser evitado com o devido investimento, mas hoje é a solução mais plausível para um problema crônico e urgente


Fontes de pesquisa:

  • https://www.sindmetalsjc.org.br/noticias/n/6302/organizados-trabalhadores-da-avibras-estao-em-greve-ha-145-dias
  • https://horadopovo.com.br/venda-da-avibras-a-conglomerados-internacionais-e-desservico-ao-brasil-diz-militar/
  • https://www.tmabrasil.org/blog-tma-brasil/noticias-em-geral/em-recuperacao-avibras-podera-ser-vendida-ou-ter-uniao-como-socia#:~:text=A%20Avibras%20tem%2045%20anos,parte%20de%20desenvolvimento%20e%20produ%C3%A7%C3%A3o.
  • https://horadopovo.com.br/a-situacao-da-avibras-e-o-apagao-na-industria-de-defesa-do-brasil/
  • https://pt.wikipedia.org/wiki/Avibras
  • https://www.nexojornal.com.br/extra/2022/03/19/Avibras-pede-recupera%C3%A7%C3%A3o-judicial-e-demite-420-funcion%C3%A1rios
  • https://horadopovo.com.br/mercadante-e-jose-mucio-se-encontram-com-presidente-da-avibras-para-evitar-desnacionalizacao-da-empresa/
  • https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/04/03/avibras-busca-investidor-estrategico-para-manter-operacao.ghtml

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